sexta-feira, 17 de abril de 2009

O corpo fala

Compreender e expressar nossas emoções é o primeiro passo para prevenir enxaqueca, dor nas costas, alergias e outras doenças. A cura está em entender as mensagens do corpo e olhar para dentro de você mesmo. Algo que os orientais sabem há milênios só recentemente a medicina ocidental reconheceu: os males que afetam o corpo também têm raízes nas emoções e no estado de espírito. "Nosso corpo é formado de matéria e energia. As doenças se instalam quando o fluxo de energia está desequilibrado, e as causas são tanto externas quanto internas", explica Mauro Perini, ginecologista e especialista em medicina tradicional chinesa, de São Paulo. Portanto, não são apenas os vírus, os maus hábitos alimentares e o abuso de álcool e fumo que prejudicam a saúde mas também a tristeza, o desânimo e a raiva. Para entender como os sentimentos negativos podem se transformar em algo tão pesado e até desencadear doenças, é possível compará-los à chuva. A princípio, há apenas uma certa umidade no ar - que corresponde, no ser humano, a sentimentos que incomodam sem que se perceba. A umidade começa a se condensar em nuvens leves - idéias, pensamentos e emoções já perceptíveis, mas ainda pouco consistentes. As nuvens se adensam até se transformar em chuva (sentimentos negativos, como ressentimentos e tensões), que cai sobre o solo - nosso corpo. Quanto mais forte a chuva, mais problemas ela é capaz de provocar. A comparação está no livro francês Dis-Moi Où Tu As Mal, Je Te Dirai Pourquoi (Diga-Me Onde Dói e Eu Direi Por Quê), de Michel Odoul (ed. Albin Michel, inédito no Brasil).
Antes da chuva
O organismo dá sinais que evidenciam o problema antes que ele se manifeste. "Percebê-los nem sempre é fácil, pois exige olhar para dentro de si", afirma Susana de Albuquerque Lins Serino, médica e psicoterapeuta que trabalha com psicossomática (o estudo das influências psíquicas nos problemas orgânicos), de São Paulo. Muitas vezes, basta notar as pequenas contrariedades do dia-a-dia para descobrir o que não vai bem. "Se alguém apressado bate o joelho em uma cadeira e não pára para pensar por que vive distraído a ponto de não ver onde pisa, vai se machucar o tempo todo", exemplifica Susana. "Se não damos atenção à dor de cabeça, ao cansaço, à irritação permanente, o problema vai sempre seguindo adiante até que, a certa altura, o corpo trava." O estado emocional fragilizado pode até abrir espaço para ataques de agentes externos, como vírus e bactérias. O médico Mauro Perini dá o exemplo da tuberculose: "Atualmente, apesar dos antibióticos e das vacinas, a doença, que estava controlada, volta a crescer, exatamente quando vivemos uma época de desemprego, fome e guerras. A tristeza enfraquece o pulmão, e um órgão fraco não consegue se defender".
Chave da cura
Seja qual for o problema, ele geralmente exige um mergulho em nossa sombra, no lado escuro, que nos recusamos a encarar. Se o mal-estar tem uma causa interna e profunda, o restabelecimento só virá quando a questão for resolvida. "Não existe cura se não tentarmos identificar dentro de nós o que está errado e lutar para resolver o problema", ressalta a terapeuta Susana Serino. "Ficar doente é uma oportunidade de conhecer e encontrar nossa própria capacidade de cura", conclui. Saiba como funcionam as relações entre as partes do corpo, os sentimentos e as doenças mais comuns, segundo o psicoterapeuta alemão Rüdiger Dahlke, autor dos livros A Doença como Linguagem da Alma e A Doença como Símbolo - Pequena Enciclopédia de Psicossomática (ambos da ed. Cultrix).

Texto: Ana Ban

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