domingo, 10 de maio de 2009

AMORCURA

Uma Visão da Totalidade e do Amor
Deepak Chopra

A mecânica da evolução é a mecânica do amor. Todos nós fomos concebidos como pensamentos de amor e de desejo que se fundiram em diminuta matéria genética. Enquanto recém-nascidos, esse mesmo amor nos alimentou e nossos primeiros pensamentos conscientes sobre nós mesmos estavam totalmente envolvidos com o amor de nossa mãe, sem nenhum sentimento de separação. Se a força do amor pode conceber a vida, nutri-la e dar-lhe identidade, deve então fazer parte da inteligência que somos nós.
A mente autoconsciente é aquela que continua a usar sua inteligência com amor. Pode até, algumas vezes, ter uma experiência de amor absoluto. Não importa idade nem local, os registros de todas essas experiências têm inegável similitude. São sempre descritas como uma força motora primária, dinâmica desde o princípio, e que penetra em tudo, que não pode ser separada da "totalidade". Os poucos que vivenciaram a experiência do amor absoluto são guias da humanidade.
Esse mesmo guia encontra-se no interior de nossas células; definitivamente, não podemos ter vida consciente ou impulso de inteligência sem consultá-la. O amor dirige a inteligência. É como um fio de linha comum que não podemos soltar de nossas mãos quando colocados na corrente da evolução. O fio parte de nosso interior, cruzando o limiar dos pensamentos até o pórtico do Universo. Todos carregamos nosso pedaço de fio no feixe de ADN, que o marca como parte insubstituível da existência. Em momentos de alta sensibilidade podemos perceber o amor como o gentil timoneiro da evolução. Faz o processo da vida caminhar, simplesmente porque quer ir adiante. A evolução, nesse sentido, não é uma "força implacável" mas uma seqüência de desejos inocentes.
O amor é inocente e direto. Delicia-se com o que vê e, em seu estado mais puro, não reconhece propósito mais alto do que o deleite. É por isso que a ingênua conscientização em relação a outras pessoas tem poder real e exerce influência tão transformadora - é amor. Simplesmente ver que o amor permeia toda a natureza - que é a identificação contida em toda experiência vivencial - torna a vida criativa. Um toque de amor e a matéria bruta da vida modela-se para um determinado propósito. O amor é uma força criativa; através da criação procuramos alegria e imortalidade.
A afirmação mais forte do amor é a unidade. A mente pode sentir-se esmagada ao vislumbrar, num lampejo, essa unidade; ela, porém, também está presente no dia-a-dia de todas as coisas. Todos amam sua casa, seu filho, seu jardim; mas, colocado em seu limite, este sentimento torna-se infinito: "Amo este universo, ele é meu". A idéia é expressa com inocência e de maneira encantadora pelo Swami Satchidananda:
Um dia estava trabalhando no campo e feri meu dedo. Podia ter ignorado o fato, mas limpei o ferimento e coloquei um curativo. Se tivesse ignorado o ferimento e o dedo infeccionasse, todo meu corpo teria sofrido. Da mesma forma, se sentimos que somos parte do corpo cósmico, do Universo todo, como podemos deixar de amar todas as partes.
Desse raciocínio simples nasce a necessidade de colocar a vida em plano mais alto. Se as diferenças forem ilusões criadas na cabeça, ver a realidade da não-diferença restaura a realidade. O Swami prossegue:
Quando sentimos que somos parte de um todo, que pertencemos ao todo e que o mundo todo nos pertence, esse mesmo sentimento faz-nos amar, e esse amor dá origem à cura... Nenhum curador pode curar sem o amor universal. Se percebemos que não somos apenas indivíduos, mas parte de todo o Universo, não teremos ninguém. Um homem sem medo vive para sempre; um homem temeroso morre todos os dias, todos os minutos.
Faz diferença pensar que sou parte do Universo? Se for considerado como um simples pensamento, não creio. Porém, uma "vivência" é mais do que um pensamento. Significa que um momento de conscientização mudou a realidade. Quando tocado pela conscientização, algo novo acorda.
Um dos mais ousados pensadores da vanguarda da "nova física", David Bohm, propôs a conscientização da unidade como hipótese cientifica. Ele criou a expressão "ordem implícita" e a usou para ligar todos os acontecimentos físicos do Universo, de tal forma que o estudo detalhado de uma parte traria, em princípio, o conhecimento total de cada uma das partes. Isto implica que, quando amam ou são visitadas por interiorização "místicas", as pessoas contatam uma realidade universal. Estão, na realidade, juntando-se aos outros a nível de uma conscientização unificada. Bohm descreve esse fato da seguinte maneira:
Mesmo se uma centena de pessoas fosse capaz de perceber a camada mais profunda da realidade e a prendesse dentro da mente coletiva, o ego desapareceria e elas formariam uma única consciência, exatamente como as partes de uma pessoa altamente integrada se integram como um todo.
A nova física também nos coloca a idéia de que nosso universo - o corpo cósmico - no princípio era um todo e o todo permanecerá. Talvez a ciência acabe por concluir que as correntes de matéria e energia, em ebulição, não têm nenhuma realidade ou, talvez, apenas uma pobre realidade, de segunda mão, se comparada com a ordem primeira que mantém o absoluto como absoluto. Até onde a sabedoria humana conseguiu expressar, a verdadeira realidade do "absoluto" é o amor. Encontrar a mesma ordem implícita na natureza e dentro de nós mesmos não é uma descoberta ocasional. Dentro do que crê, a ciência está chegando à mesma idéia que uma pessoa sensível encontra em sua própria conscientização: como afirma Merleau-Ponty, "estamos dentro da verdade e dela não podemos sair". Um homem que realmente acredita em "meu universo" o verá como um universo de inteligência pura guiada pelo amor.
Estes são todos sentimentos maravilhosos e inspirados; nós os encontramos nas palavras de todos os santos, em todas as religiões. Podemos concordar com eles, podemos levá-los a sério ou mesmo literalmente, mas quem pode fazer uso pratico deles?
O amor foi feito para ser cultivado. Tem sido apreendido em todas as conscientizações, mas não tem sido usado em sua totalidade. A cura é o uso do amor. Quando flui sem esforço do mais profundo de nosso "eu interior", o amor cria saúde. Crianças privadas de calor do amor materno quando bebês só poderão ser curadas através de amor e compaixão. Seus corpos são capazes de inverter anos de carência e fome emocional se o contato com o amor for sempre renovado. Neste sentido, o amor é bastante prático. Pode começar a ser aplicado no preciso instante em que o sentimos em nossa conscientização.
Pessoas amorosas, compassivas - cuja inteligência é usada com amor -, são geralmente mais saudáveis e mais felizes. Dirão sempre que, em última instância, seu amor é egoísta porque as restaura e as renova a cada dia. Quando plena, a vida é só amor; e quando a conscientização é plena só traz amor. Cada impulso de inteligência em nossa conscientização começa sua jornada na fonte da vida como amor e nada mais que amor.
Podemos colocar nossa vida num plano mais alto de conscientização e então compreenderemos a simplicidade, que é amor. Não é pensamento, esperança, sentimento ou sonho. É parte de nós, o alento de nossa vida.
(texto extraído do livro Conexão e Saúde 7a. ed - EDITORA BEST SELLER - SÃO PAULO - 1987 )

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