quarta-feira, 13 de maio de 2009

As articulações

São as articulações que conferem mobilidade ao Ser Huma­no. Nas articulações podem manifestar-se sintomas de inflama­ção que provocam dores que por sua vez podem conduzir à paralisação e à rigidez. Quando uma articulação se torna rígida isso significa que o paciente bloqueou. Uma articulação paralisa­da deixa de poder exercer a sua função - se a pessoa permanecer bloqueada nalgum tema ou sistema de valores, estes acabam, tam­bém, por perder a sua funcionalidade. Um pescoço endurecido e com pouca mobilidade revela a inflexibilidade do seu dono. Na maioria das vezes, basta ouvir falar uma pessoa para ficar a sa­ber toda a informação necessária sobre o sintoma de que pade­ce. Para além da rigidez e de inflamações, as articulações podem ser afectadas por torções, distensões, luxações e roturas de liga­mentos. Se tomarmos em consideração as expressões que se se­guem veremos que a linguagem dos sintomas é também bastante reveladora: distorcer um assunto; ir longe demais; entalar o pró­ximo; amesquinhar. Pode-se estar sobressaltado, tenso ou um pouco revirado [no sentido de cabeça perdida]. Não só é possível recolocar e endireitar uma articulação como também uma situa­ção ou uma relação.
Em geral, para recolocar uma articulação, há que dar um pu­xão forte para a colocar numa posição limite - ou acentuar a posi­ção forçada na qual porventura já se encontre - para que a partir dessa posição extrema ela possa vir a reencontrar o seu justo cen­tro. Esta técnica tem paralelo na psicoterapia. Quando o paciente se encontra imobilizado numa situação limite, é possível empurrá-lo ainda mais nesse sentido até se alcançar o paroxismo do movi­mento pendular, ponto a partir do qual ela poderá reencontrar o centro. Afigura-se mais fácil sair de uma situação forçada se mergulhar por completo nesse pólo. A cobardia, porém, inibe o Ser Humano, e a maioria acaba por encalhar a meio de um pólo. A maioria das pessoas faz, o que quer que faça, sem grande entu­siasmo, quedando-se por isso pelos seus pontos de vista e formas de conduta pessoais medíocres, daí que sejam tão poucas as trans­formações. Cada pólo, porém, possui um valor limite a partir do qual se converte no seu oposto. É por essa razão que de uma forte tensão se pode passar com facilidade a uma distensão (Jakobsen Training). Por essa razão, se justifica, também, que tenha sido a física a primeira das ciências exactas a descobrir a metafísica e que os movimentos pacifistas sejam militantes. O Ser Humano tem de conquistar o justo meio, mas o desejo ardente de o conseguir imediatamente faz com que se quede pela mediocridade.
De tanto nos exasperarmos pela mobilidade, sujeitamo-nos a ficar imobilizados. As alterações mecânicas das articulações in­dicam-nos que abusámos excessivamente de um dos pólos, que forçamos demasiado o movimento numa só direção e que se impõe agora uma retificação. São um sinal de que fomos longe demais, que ultrapassamos o limite e que há, por isso, que nos virarmos para o outro pólo.
A medicina moderna tornou possível a substituição de algu­mas articulações - em especial da coxa - por próteses (endo-prótese). Uma prótese é sempre uma mentira na medida em que simula o que não é. Uma pessoa que, sendo rígida interiormente, finja agilidade no seu comportamento exterior, ver-se-á forçada a corrigir o seu comportamento por força do sintoma que lhe impõe uma maior sinceridade. Se a correção necessária for neu­tralizada por uma articulação artificial - outra mentira - o corpo continuará a simular agilidade.
Para termos uma ideia da falta de sinceridade que a medicina moderna faculta imaginemos a seguinte situação: suponhamos que por sortilégio fôssemos capazes de fazer desaparecer todas as próteses e modificações artificiais operadas em todos os Se­res Humanos. Todos os óculos e lentes de contato, todos os apa­relhos auditivos, articulações, dentaduras postiças, as interven­ções cirúrgicas, os parafusos inseridos nos ossos, os corações artificiais, e demais pedaços de ferro e de plástico introduzidos artificialmente no corpo. O espetáculo seria dantesco.
Se, depois, graças a novo sortilégio, anulássemos todos os triunfos da medicina que protegem o Ser Humano da morte, de­parar-se-nos-ia um amontoado de cadáveres, aleijados, coxos, meio cegos e meio surdos. Seria uma imagem pavorosa - mas seria uma imagem sincera. Seria a expressão visível da alma da humanidade. As artes da medicina pouparam-nos a semelhante espetáculo horrendo restaurando e completando o corpo hu­mano com toda a espécie de próteses ao ponto de, no final da intervenção, nos dar a impressão de que estamos perante algo de verdadeiro e vivo. Mas, e o que é feito da alma? Aí, nada mu­dou; ainda que a não vejamos, continua morta, cega, muda, rígi­da, presa, aleijada. É por essa razão que o receio da sinceridade é tão grande. O Retrato de Dorian Gray conta-nos a mesma his­tória. Passou a ser possível, através da manipulação externa, con­servar artificialmente a formosura e a juventude durante mais alguns anos, mas quando se nos depara a nossa verdadeira faceta interior assustamo-nos. Melhor seria cuidarmos mais amiúde da nossa alma do que nos limitarmos a ficar preocupados com o corpo apenas, porque o corpo é efémero e o espírito não.
(trecho extraído do livro A Doença como Caminho, de Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke)

Um comentário:

  1. Riquissima matéria, nos deparamos com a realidade de como estamos longe de acessarmos a liberdade que nossa alma nos dá. Mas, não desistamos, continuemos nos transformando para atingis o tal amor incondicional. Muito obrigado.

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